Produzido por Paulinho Albuquerque e Cláudio Jorge para a Carioca Discos.
Gravado no Estúdio Discover
Técnicos de gravação: Rodrigo Lopes, Guilherme Reis, Rodrigo Duarte e Wanderley Loureiro.
Auxiliares: Pedro Quintaes
Gravação de voz: Studio Araras -Técnico: Sérgio Lima Neto
Técnico de mixagem: Guilherme Reis
Masterização: Batmasterson.- Técnico Amaury Machado
Fotos: Bruno Veiga
Direção de arte e design: Ernani Cal
Primeiro distribuidor: Zambo Discos
Atual distribuidor: Biscoito Fino
Amigo de fé - release
Por HUGO SUKMAN
É o afeto que guia Cláudio Jorge pelos caminhos da música e da vida. Quem tem a honra e o prazer de conhecer esse músico (palavra que talvez faça jus a um violonista, guitarrista, compositor, letrista, cantor, produtor, agitador, pensador, escritor, crítico, boêmio, empresário...), carioca e botafoguense do Cachambi hoje docemente exilado numa ladeira de Laranjeiras e freqüentador obsessivo das vielas de Lisboa, saberá logo que não há pessoa melhor. Amigo de fé (Carioca Discos), seu terceiro disco autoral, é cristalino reflexo disso: a transformação dessas duas palavras, “amigo” e “fé”, em sambas e canções, tudo guiado com muito talento e sinceridade pelos caminhos do afeto.
Se no CD anterior, a obra-prima “Coisa de chefe” (Carioca Discos, 2001), o tema e o motivo eram o samba, ou o como fazer um samba ao mesmo tempo moderno e eterno no século XXI, neste Amigo de fé, tema e motivo são as relações que dão sentido à vida. Cada letra, cada música fala disso, cada músico (os melhores do Brasil na atualidade), parceiro ou artista participante chegou aqui pelos caminhos da amizade e do trabalho diários. Tudo, de cada canção à forma de produção independente, é resultado, de fato, da vida. Daí a sinceridade que salta aos ouvidos de uma música feita com calma, no decorrer do tempo, sem a pressa do profissionalismo, mas com o alto nível de exigência deste.
Mas mesmo a mixagem – algo normalmente tratado de forma fria, técnica – aqui ganha ares de encontro. Há primeiro um encontro real, com o velho amigo e parceiro Guilherme Reis, sócio de Cláudio Jorge na gravadora Carioca Discos, um dos maiores engenheiros de som e mixagem da música brasileira. E há, na mixagem, um encontro do violão e das harmonias de Cláudio Jorge com as vozes e a percussão. Ouçam Estrelinha e Conchinha, ou qualquer faixa de Amigo de fé, e tentem lembrar de uma mixagem mais generosa para o instrumento do compositor e sua canção (Afinal, o que se esperava de um disco do maior violonista de samba? Não seria o seu violão?).
Assim como a mixagem, a capa fotografada por Bruno Veiga é também resultado de afeto, de uma longa parceria entre o compositor e o fotógrafo, autor de todas as capas da Carioca Discos e hoje seguramente o fotógrafo mais dedicado ao samba no Rio de Janeiro.
Estrelinha e Conchinha
O hipnótico ijexá que abre o CD, bem poderia resumir suas intenções: um disco sobre afeto e amizade. Cláudio Jorge o inicia tratando da relação do homem com a eternidade, na sua visão de alguém profundamente religioso. Estrelinha e Conchinha é uma celebração do encontro (ou seja, da amizade): do homem com a eternidade, de Oxum com Iemanjá, das águas do rio com as águas do mar. A música foi “encomendada” pelas próprias Estrelinha e Conchinha, dois Erês a quem o compositor encontrou certa vez num ritual de candomblé, sua religião. O coro infantil Toca o Bonde – Usina de Gente, regido por Silvia Passaroto, e a percussão afro-brasileira de Zero, reforçam a atmosfera de encontro.
ESTRELINHA E CONCHINHA
(Cláudio Jorge)
Ora yê yê ò Oxum
Iemanjá odoyá
Vamos rezar pra Olurum.
Estrelinha na areia
E Conchinha no mar
No encontro das águas
De Oxum com Iemanjá
Assim sempre foi
E assim sempre será
Elas chegam juntas
Quando a gente vem rezar
Elas chegam juntas
Pra gente rezar
Assim sempre foi
E assim sempre será
No encontro das águas
De Oxum com Iemanjá
Estrelinha na areia
E Conchinha no mar
Arranjo e violão - Cláudio Jorge
Baixo elétrico - Bororó
Bateria - Camilo Mariano
Batá itotelé / Batá okonkolo / Batá iyá
Djembe/Crotalis/ Efeitos de água/Ganzá - Zero
Participação eepeciais - Coral TGBU
Regente do coral infantil - Silvia Passaroto Braga
Amigo de fé
Samba de formato clássico, elegante como todos os seus sambas, Amigo de fé fala por si em relação ao espírito do disco: “O amor é difícil quebrar/Amigo de fé nada pode separar”, diz a letra de Ivan Wrigg, primeiro parceiro de Cláudio Jorge. A amizade como panacéia para todos os males do mundo (“E o balão vai queimando/E o time perdendo no futebol/Só falta o sol dar um curto/E o céu apagar”) reflete-se novamente na produção da faixa, no arrasador arranjo de metais de Humberto Araújo (também nos saxofones), com quem Cláudio Jorge já fez tantos trabalhos (como produção e arranjos do disco Sincopando o breque, de Nei Lopes) e a quem admira tanto como amigo e arranjador.
AMIGO DE FÉ
(Cláudio Jorge e Ivan Wrigg)
É meu amigo
Custou mas tinha que pintar
Hoje eu corri pro papel e a coisa veio
Mando essa carta-canção
Que já tava atrasada nem vou comentar
Você sabe que a bruxa
Anda solta roncando no ar
É... Não dá mais pra dormir
A vida tá aí
Se a gente parar pra pensar
Quem é que vai agir
Pois é demorou mas cheguei
O amor é difícil quebrar
Amigo de fé nada pode separar
Abro o jornal pra saber
Pra rever como a coisa está
Tá cada um se virando pra sobreviver, é...
E o balão vai queimando
E o time perdendo no futebol
Só falta o sol dar um curto
E o céu apagar
Mas felizmente ainda posso escrever
Pra te por a par
Que esse meu coração não parou de sambar
E enquanto o peito bater
E um amigo escutar
Eu dato e assino
Que a coisa vai mudar
Arranjo de base e violão - Cláudio Jorge
Arranjo de metais - Humberto Araújo
Baixo elétrico - Ivan Machado
Bateria - Camilo Mariano
Pandeiro/Tan-tan - Marcelinho Moreira
Sax Tenor/Sax soprano - Humberto Araújo
Trompete/Fluguel - Altair Martins
Clarone/Clarinete - Levi Chaves
Devagar com o andor
O partido alto celebra um amigo tão importante que Cláudio Jorge o traz constantemente abraçado ao peito: o violão. E de quebra, a letra traz uma espécie de manifesto humanista do autor, traz toda a sua visão de mundo, presente também no bom gosto, na sofisticação harmônica que ele põe sobre este gênero primordial de samba.
Devagar com o andor
(Cláudio Jorge)
Devagar com o andor
Que o Cláudio Jorge é de Barros.
Tem coisas que podem me incomodar
Mas quando fico chateado
Tenho o violão do lado
Para me consolar.
Me incomodo quando vejo injustiça,
Preconceito e má vontade
Em quem pode resolver a situação.
Os poucos que têm muito nada fazem
Devem ter pedra de gelo no lugar do coração.
Meu violão chora por matas brasileiras
Cada vez mais estrangeiras
E com tantos precisando de uma terra.
Não gosta de quem prende e tortura
Nem de quem se enriquece faturando com a guerra.
Eu raramente me aborreço com a vida
Vivo ela bem vivida
Mas tem horas que eu não seguro não.
É quando me proíbem o direito
De tocar meu Samba novo sem jabá lá estação.
Meu violão já está comigo há muito tempo.
Sou parceiro nos momentos
De alegria e de tristeza que revela.
Mas numa ele quase se calou
Vendo o drama lá de perto de quem vive favela.
A paciência foi um dom que Deus me deu
E com ela a consciência que sem fé
Não é possível se viver.
Confesso que me deixa irritado
Quando igrejas e mercado se aliam pro poder.
Meu violão não quer mentira, desafeto...
Cena de um jornal diário
Que só faz envenenar a poesia
Por isso ele está sempre ao meu lado
Quando fico chateado me consola noite e dia.
Arranjo e violão - Cláudio Jorge
Baixo elétrico - Ivan Machado
Bateria - Camilo Mariano
Pandeiro - Ovídio Brito
Tan-tan/Caixa - Marcelinho Moreira
Caixa - Paulinho e Da Aba
Tamborim/Clave/Block/Caixa - Marçal
Coro - Analimar Ventapani, Claudia Telles e Jurema de Cândia
Recado pro Elton Medeiros
Decano dos grandes melodistas do samba, o parceiro volta como homenageado em Recado pro Elton Medeiros, talvez o primeiro samba inspirado num recado de secretária eletrônica, cujo resultado em letra e música de Cláudio Jorge não deixa a menor dúvida sobre a relação entre o afeto e a composição: “Meu irmão, mas que prazer/ Teu recado eu encontrei/ Me bateu uma saudade/ De bons momentos lembrei/ O efeito de tanta emoção/ Pro papel já repassei/ Deixo em formato de samba/ O tanto que me emocionei”. Silvério Pontes no trompete e Zé da Velha no trombone (aliás, instrumento original de Elton) dão o toque de samba de gafieira à faixa.
RECADO PRO ELTON MEDEIROS
(Cláudio Jorge)
Meu irmão, mas que prazer
Teu recado eu encontrei.
Me bateu uma saudade,
De bons momentos lembrei.
O efeito de tanta emoção
Pro papel já repassei.
Deixo em formato de Samba
O tanto que me emocionei
Um convite pra uma parceria
Revela que a gente é uma grande amizade
E ainda vindo de um bamba
Pra mim é motivo de felicidade.
Assim que tiver um tempinho
Coloco uma letra na tua canção
Mas enquanto ela não chega
Recebe essa prova de admiração
O que eu sei todo mundo já sabe
De toda cidade é motivo de orgulho.
Lá no centro, Leblon,
Lá no bairro de Lucas
Ou no Pedregulho.
Um sambista com tantas conquistas
É sempre uma fonte de inspiração
Pra todo e qualquer brasileiro
Que sonhe bons tempos pra nossa nação.
Laços no tempo
A bossa nova feita por Cláudio Jorge para sua mulher Renata, prossegue no caminho do afeto celebrando o amor. Mostra um Cláudio Jorge inspiradíssimo como letrista (“Você é zen e faz tai chi chuan/E eu, meu bem, projeto de Ogã/Nas diferenças somos iguais/Buscando a paz no amor”), cantando o fino e contando com o arranjo de cordas de outro velho parceiro, outro velho amigo, o maestro carioca Gilson Peranzzetta.
LAÇOS NO TEMPO
(Cláudio Jorge)
Você surgiu tão de repente
Tal qual estrela cadente
Luz pro meu pedido de ser feliz
Logo eu te quis.
Você me olhou
E então sorriu pra mim
Tocando a minha alma assim
E as nossas mãos
Logo se encontraram
Parando o mundo em nós.
O primeiro beijo
Reatou os laços no tempo
Vem de longe eu dizer te amo tanto.
Você é zen e faz Tai chi chuan
E eu, meu bem, projeto de Ogã.
Nas diferenças somos iguais
Buscando a paz no amor.
Arranjo de base e violões - Cláudio Jorge
Arranjo de cellos - Gilson Peranzzetta
Baixo acústico - Bororó
Bateria - Camilo Mariano
Cellos - Iura Ranevsky e Marcio Malard
Block - Armando Marçal
Participação especial - Iura Ranevsky (Solo de Cello)
Coisas simples
Eis uma parceria com um Elton Medeiros em grande forma, numa daquelas melodias que poderia receber letra de Paulinho da Viola, de Hermínio Bello de Carvalho, de Cartola. E que recebe, de Cláudio Jorge, uma outra ode ao afeto: “Um beijo, um abraço, um olhar/ Um chope, um bom papo e o luar/ São coisas simples que a paixão/ Vem pra valorizar”. Terceiro amigo/arranjador a entrar em campo, Leandro Braga injeta sopros suingadíssimos ao samba. O suíngue é reforçado pela participação especial de Mauro Diniz no cavaquinho, com a elegância compatível para um filho de Monarco num samba de Elton Medeiros e Cláudio Jorge. Se isso não é um clássico, o que mais seria?
COISAS SIMPLES
(Elton Medeiros e Cláudio Jorge)
Eis que mais uma vez o amor
Mexe com o meu coração
Onde ainda está guardada a dor
Da última desilusão
É talvez absolvição
Que nem indulto de um rei
Que me liberta na canção
As rimas de amor e flor que eu sei
Como é bom viver este momento
Onde tudo é motivo pra sonhar.
Um beijo, um abraço, um olhar,
Um chope, um bom papo e o luar.
São coisas simples que a paixão
Vem pra valorizar
Arranjo de base e violão - Cláudio Jorge
Arranjo de sopros - Leandro Braga
Baixo elétrico - Ivan Machado
Mauro Diniz - Cavaquinho
Bateria - Camilo Mariano
Pandeiro - Ovídio Brito
Repique/Tamborim - Marcelinho Moreira
Tamborim - Armando Marçal
Coro - Analimar Ventapani, Claudia Telles e Jurema de Cândia
Sax alto - Ricardo Pontes
Sax tenor - Humberto Araújo
Fluguel - Nelson Oliveira
Trombone - Sérgio de Jesus
Arranjo e violão - Cláudio Jorge
Ivan Machado - Baixo elétrico - Camilo Mariano - bateria Pandeiro - Ovídio Brito
Participações especiais: Zé da Velha (Trombone) e Silvério Pontes (Trompete)
Melhor assim
Lundu de cantigas vagas
Traz um presente pra mim?
O afeto arrebatador e agitado da paixão é representado por um outro grande samba, Melhor assim, com Nei Lopes. Já o prazer do dia-a-dia do amor tranqüilo e profundo é celebrado em claves diferentes por Lundu de cantigas vagas e Traz um presente pra mim?. O lundu é outra parceria com o velho amigo Nei Lopes. Trata-se de uma obra-prima e uma conspiração de afetos: embalado pela viola caipira erudita de Marco Pereira, Cláudio Jorge atualiza o velho e plangente lundu, uma das matrizes da moderna música brasileira, com direito a letra caudalosa e sofisticada de Nei (“Bem por trás daquela serra/ Naqueles longes confins/ Mora a flor mais olorosa/ No mais belo dos jardins”). Já Traz um presente pra mim?, um samba sincopado de malandro com a marca do parceiro Wilson das Neves, traduz como é gostoso voltar para casa depois das viagens de trabalho e reencontrar a mulher amada, numa outra aula de letra de Cláudio Jorge (notem que, aliás, como ele vem se tornando tão bom em letra quanto já era em música...). Os sopros calorosos vêm de outro arranjador craque e parceiro, Itamar Assiére.
Melhor assim
(Cláudio Jorge e Nei Lopes)
Uma atração irresistível virou paixão
Infelizmente foi somente paixão
Vulcão em erupção terrível
Encontro de complementares nós dois
Amarga união de contrários depois
Que colisão! Fratura exposta
Impossível recompor
Tarde demais, “Inês é morta”
É se acostumar à dor
Foi um furacão avassalador
Foi uma ilusão nunca foi amor
Foi revolução com tiro de festim
Fanfarra de um só clarim
E agora apagado o fogo e o estopim
Eu vejo foi melhor assim
Arranjo de base e violão - Cláudio Jorge
Arranjo de metais - Itamar Assiére
Baixo elétrico - Ivan Machado
Bateria- Camilo Mariano
Pandeiro - Ovídio Brito
Tantan/Repique - Marcelinho Moreira
Trompete - Altair Martins
Sax tenor - José Carlos Bigorna
Trombone - Johnsom Barbosa
Participação especial - Jota Moraes (Vibrafone)
LUNDU DE CANTIGAS VAGAS
(Cláudio Jorge e Nei Lopes)
No sopé daquela serra
Lá detrás daquela matas
Meu coração desatina
Minha viola desata
Vertiginosa cascata
Vem rolando lá de cima
Num som de bordões e primas
Na cor do ouro e da prata
Nesta avalanche de rimas
Que um dia ainda me mata
Mandei escrever teu nome
No canto do tangará
Pro mundo ficar sabendo
Quem que é minha iaiá
Bem por trás daquela serra
Naqueles longes confins
Morsa a flor mais olorosa
No mais belo dos jardins
E eu que sou seu jasmim
Vou cantá-la em verso e prosa
Indo colher uma glosa
No mais profundo de mim
Pra ofertar aquela rosa
Que ainda vai ser meu fim
Mandei escrever teu nome
No cheiro de um manacá
Pro mundo ficar sabendo
Quem que é minha iaiá
Arranjo de base e
violão - Cláudio Jorge
Baixo acústico - Bororó Bateria - Camilo Mariano Ganzá/Triângulo e
pandeiro - Ovídio Brito
Armando Marçal - Block
Participação especial - Marco Pereira (Viola de 10 cordas)
Traz um presente pra mim?
(Wilson das Neves e Cláudio Jorge)
É só ela saber que eu já vou viajar
Que ela me pede: “Traz um presente pra mim?
Pato no tucupi se fores ao Pará,
Passando na Nigéria, argolas de marfim.
“Me traz uma lembrança de qualquer lugar.
Que seja uma rosa pro nosso jardim “
E eu, que vivo a vida só pra lhe agradar,
Atendo o teu pedido tin-tin por tin-tin.
Uma seda de Nova Déli
E um perfume lá de Paris
Se eu esquecer, compro no free shop.
Eu só quero é te ver feliz.
Brincadeira, se parecer,
Ledo engano vão cometer.
Sou capaz de virar fogueira
E o frio dela aquecer
O quimono vem do Japão,
Uma renda do Ceará
E o lanche lá do avião,
Pras crianças eu vou levar.
E do céu do nosso sertão
Mil estrelas vou recolher
E de luz farei um buquê
Que é pra te oferecer.
Um bom vinho de Portugal
E de Cuba o meu prazer.
Eu trarei pra poder fumar
Te contando histórias do Che.
Um tambor lá do Maranhão,
Da Bahia o Ilê Aiyê
E também mais essa canção
Que dedico a você.
Arranjo de base e violão - Cláudio Jorge
Arranjo de metais - Itamar Assiére
Baixo elétrico - Ivan Machado
Bateria - Camilo Mariano
Pandeiro/Tan-tan - Marcelinho Moreira
Coro - Analimar Ventapani, Claudia Telles e Jurema de Cândia
Bongô - Armando Marçal
Trombone - Johnson Barbosa
Sax tenor - Henrique Band
Fluguel - Altair Martins
Flauta - Ricardo Pontes
Esboço
Se a parceria com Wilson das Neves celebra a volta de viagem, a singela canção Esboço é a própria viagem, é o encontro de Cláudio Jorge com o parceiro d’além mar, o poeta angolano Manuel Rui (que participa da gravação declamando seus versos). Essa relação com Europa e África lusófona é resultado do trabalho de músico de Cláudio Jorge, das suas várias viagens anuais como violonista do conjunto de Martinho da Vila. Notem que, na ficha técnica de todas as faixas, como Cláudio Jorge viaja pelas canções com os mesmos parceiros que viajam com ele pelo mundo ao lado de Martinho: gente como o baixista Ivan Machado, o baterista Camilo Mariano, os percussionistas Marcelinho Moreira, Ovídio Brito, Paulinho da Aba e o flautista Victor Neto.
ESBOÇO
(Cláudio Jorge e Manuel Rui)
Há quanto tempo o vento finge seus lamentos
Dos afetos mais discretos
Da lua com o luar
E os teus afetos
Também discretos
Sombra de estrela com vergonha de brilhar
Não falem nada dos segredos e dos medos
Nem dos rumos mais incertos
Com miragem de gritar
São mil projetos
Dos mais concretos
Na intenção de sempre começar
É gota deste traço
Esboço de um abraço
No eco de um deserto perto
Unidos numa voz
Esboço de cantiga
Pra não ficarmos sós no som da vida
Há tanta coisa entre a pauta dos meus dedos
Neste esboço de cantiga
Só tem gente, gente amiga.
Com os segredos
De mil degredos
É muita gente para eu cantar
Arranjo de base e violão - Cláudio Jorge
Arranjo de metais - Leandro Braga
Baixo acústico - Bororó
Pratos - Camilo Mariano
Flauta/Sax alto - Ricardo Pontes
Sax Tenor -Humberto Araujo
Participações especiais - Victor Neto (Solo de flauta) Manuel Rui (poeta angolano)
Músico profissional
Os colegas e a profissão são celebrados nesta outra parceria com Wilson das Neves. Outra melodia incrível e letra idem, vejam essa, afetuosa e cáustica: “É a isso que eu me dediquei/ E com muitos amigos toquei/ Batera, baixo e piston/ Vocal, pandeiro e acordeom/ É uma família feliz/ Embora viva por um triz/ Pois não são toadas as contas/ Que dão para pagar”.
MÚSICO PROFISSIONAL
(Wilson das Neves e Cláudio Jorge)
É hoje que eu vou lhes contar
Um prazer desse jeito não há.
Vivido por quem sempre está
Com as notas onde quer que vá.
Seja na grande orquestra, quarteto,
No palácio, palanque ou coreto.
No estúdio, em casa ou no bar,
Viajando por todo o lugar.
É gente que não cabe em si
Quando junta fá, sol, dó, ré, mi.
Seu tempo é o compasso e a canção
Na levada lá do coração
Que nasceu para sobreviver
De tocar um instrumento pra quem quer ouvir
É a isso que eu me dediquei
E com muitos amigos toquei.
Batera, baixo e piston.
Vocal, pandeiro e acordeom.
É uma família feliz,
Embora viva por um triz,
Pois não são todas as contas
Que dão pra pagar.
Mas se eu puder escolher,
Se acaso no mundo eu voltar,
O que gostarei de fazer
Pra de novo a vida levar,
Eu diria: só quero tocar um instrumento
E tentar o meu povo alegrar.
Arranjo de base, violões e solo de violão Cláudio Jorge
Arranjo de metais - Gilson Peranzzetta
Baixo acústico - Bororó
Bateria - Camilo Mariano
Pandeiro/Tamborim - Ovídio Brito
Tantan/Repique - Marcelinho Moreira
Fluguel - Altair Martins
Sax alto/Flautas - Ricardo Pontes
Sax tenor - José Carlos Bigorna
Trombone - Johnson Barbosa
Alô Noel
Sou da Vila, não tem jeito
Martinho da Vila, “patrão” mas antes de tudo parceiro em tantas canções, é o co-autor de Alô Noel, samba que traz ao painel de afetos do disco dois dos afetos mais queridos de Cláudio Jorge: o bairro de Vila Isabel, onde os músicos brasileiros viveram e vivem em intensa boêmia, e à Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, da qual Cláudio Jorge integra a Ala de Compositores e, por mais de uma década, desfilou segurando a harmonia ao violão. A escola vem representada no samba-enredo Sou da Vila, não tem jeito, famoso samba de quadra de Vilani Silva, Rodolfo, Jaiminho e Saberás, que há anos é usado para o “esquenta” da bateria antes da escola entrar na avenida.
Alô Noel
(Cláudio Jorge e Martinho da Vila)
Eu vou cantando o meu samba
E fazendo na vida meu melhor papel
Ser feliz, eu sonho:
Ter uma vida tranqüila
E morar numa vila em Vila Isabel.
Pode ser em qualquer rua
Que dê lá na Praça Barão de Drumond
Ou até mesmo um barraco
Naquele Macaco do meu coração.
Na Teodoro da Silva, lá na Torres Homem
Ou na Souza franco.
Mas a 28 é que é o biscoito
Pra ir pro maraca caminhando a pé.
Desfilar de azul e branco
E beber na Visconde de Abaeté.
SOU Da VILa,, NĀO TEM JEITO
(Vilani Silva (Bombril), Jaime Harmonia, Jorginho Saberás e Rodolfo de Souza)
Sou da Vila, naāo tem jeito
Comigo eu quero respeito
Que meu negócio é sambar
Se você nāo acredita
Por favor nāo me complica
Leva esse papo pra lá
Sou da Vila, o que que há
Abre os braços amor
Olha eu aí
Vou levantar poeira
Balançar a roseira na Sapucaí
Arranjo e violão - Cláudio Jorge
Baixo elétrico - Ivan Machado
Bateria - Camilo Mariano
Tan-tan/Repique/Pandeiro - Marcelinho Moreira Coro - Analimar Ventapani, Claudia Telles e Jurema de Cândia
Participações especiais: os botafoguenses e vilaisabelenses Armando Marçal, Marcelinho Moreira e Paulinho da Aba (Caixas)
Parceiros amigos
Provavelmente hoje o parceiro mais constante, também Botafogo e Vila Isabel, Luiz Carlos da Vila é o co-autor de Parceiros amigos, outro samba delicioso que fala por si. Samba de feição clássica de Cláudio Jorge, serve para a profusão de imagens típicas do gênio de Luiz Carlos numa celebração da parceria, dos amigos de fé e trabalho: “A tua poesia com o meu violão/ Parceiros amigos na mesma inspiração”. A parceria de Luiz Carlos e Cláudio Jorge, aliás, extrapola a composição: os dois andam juntos para cima e para baixo numa amizade diária, que resultou, entre outros trabalhos, no disco “Matrizes” (selo Rádio MEC, 2006), uma viagem pelos ritmos negros que influenciaram a música brasileira, e que acabou transformando-se num especial do Canal Futura, gravado ao vivo na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador.
PARCEIROS AMIGOS
(Cláudio Jorge e Luiz Carlos da Vila)
Como é bom poder fazer
aquele som que dá prazer.
E, de mais a mais, saber
que os parceiros são pra ser...
Que nem a aliança
dos pés e da dança e a
a luz do salão.
A régua e o compasso,
o lápis e o traço e a criação.
O Chico e a Banda,
a água e o sabão.
Bem como a varanda
e o caramanchão.
A bola de gude
menino a rolar no chão.
O encontro da infância com a tradição.
A tua poesia com o meu violão.
Parceiros amigos na mesma inspiração.
Baixo elétrico: Ivan Machado
Pandeiro: Ovidio Brito
Tan-tan/Repique/Pandeiro - Marcelinho Moreira
Fluguel: Altair Martins
Clarinete, clarone: Levi Chavaes
Bateria: Camilo Mariano.
Arranjo de base e violāo: Cláudio Jorge
Arranjo de metais: Humberto Araujo
Samba da Bandola
Parceiros e amigos que já não estão mais por aí também são lembrados. Da prolífica parceria com João Nogueira, Cláudio Jorge retoma um velho sucesso dos anos 70 que tem tudo a ver com este disco aqui, pela celebração que faz da amizade: o Samba da Bandola. E no velho samba, traz novíssimos parceiros músicos: Hamilton de Holanda (bandolim), Rogério Caetano (violão de 7), Daniel Santiago (violão de 6) e Gabriel Grossi (gaita), todos jovens músicos de Brasília radicados no Rio e que vêm agitando o panorama musical brasileiro, numa performance de arrepiar.
SAMBA DA BANDOLA
(Cláudio Jorge e João Nogueira)
Baiana que sobe a ladeira
Que sobe a ladeira do Bonfim
Segura meu samba capoeira
Que eu vou segurar meu tamborim
Sambei na Portela e na Mangueira
Em vila Isabel sambei também
Levei muito tombo na rasteira
Andei pendurado no trem
Na bola de gude e pião
Eu fui coroado também
Eu sou carioca lá do subúrbio
Do tal distúrbio Noel falou
Eu não perco a bossa eu sigo o rumo
Do braço aberto do Redentor
É bando é bandola é bandoleiro
Samba no meu bando é mesmo assim
Falou violão falou primeiro
E quem respondeu foi bandolim
Meu bando é bandola não se assusta
E se pinta a justa eu canto assim
Arranjo de base e violão - Cláudio Jorge
Baixo elétrico -Ivan Machado
Pandeiro - Ovídio Brito
Tan-tan - Marcelinho Moreira
Participações especiais e arranjo:
Brasília Brasil (Hamilton de Hollanda – Bandolim/ Rogério Caetano - Violão de sete cordas/ Daniel Santiago - Violão de 6 cordas - solo/ e Gabriel Grossi (gaita)
O independente
Sidney Miller, grande compositor morto precocemente aos 35 anos em 1980, é o parceiro no inédito samba enredo O independente, visão irônica, amarga, mas sempre afetuosa sobre o país. No dia em que fez este samba, o filho de Cláudio Jorge, Gabriel Versiani tinha acabado de nascer, o que fez Sidney Miller dedicar a composição a ele. Agora, cantor em início de carreira – grava o primeiro disco – Gabriel canta o samba dedicado a ele junto com o pai, trazendo um afeto que faltava ao painel, o de pai e filho.
O INDEPENDENTE
(Claudio Jorge e Sidnei Miller)
Nascemos independentes
Dentro de um país
No continente que alguém batizou: Brasil
Quando descobriu belezas naturais
Riquezas muito nacionais
As aves daqui gorjeiam sons originais
Em melodias que o mundo jamais ouviu
Terra tāo gentil,
Reparte esse canto de ouro
E poderás adormecer em paz
Corpos pelo chāo
São anjos pelos ares
Vamos povoando altares
Pede-se o melhor
Engole-se aquilo que vem
O resto eu sei de cor, amém.
Abri a porta da frente
Olha quanta gente apareceu
Lá nos fundos do meu quintal
Foi-se o meu pomar, deixaram-me sementes
Presentes pr'eu poder plantar.
Mas nós nāo estamos calados
Grita-se em geral gritos de gol
E até gritos de carnaval
Disse alguém feliz
Que só nesse santo pais aconteceu
O bem venceu o mal.
Participação especial: Gabriel Versiani
Arranjo e violão: Cláudio Jorge
Baixo elétrico: Ivan Machado
Bateria: Camilo Mariano
Caixas: Armando Marçal, Marcelinho Moreira e Paulinho da Aba Tan tan, repique e pandeiro: Marcelinho Moreira
Cavaquinho: Mauro Diniz
Coro - Analimar Ventapani, Claudia Telles e Jurema de Cândia
Rosa Maria
Tudo é ilusão
O afeto de pai e filho volta nas únicas músicas do disco que não são composições de Cláudio Jorge: o medley de dois sambas de Caxinê (o apelido do grande compositor do Salgueiro e do bairro de Botafogo, Éden Silva), Rosa Maria e Tudo é ilusão. Sambas de estilista, grandes sucessos nos anos 50, eram os preferidos do pai de Cláudio Jorge, o jornalista Everaldo de Barros, e do também jornalista Paulo Medeiros, pai do produtor do disco, Paulinho Albuquerque.
ROSA MARIA (Anibal da Silva e Eden Silva)
Um dia encontrei Rosa Maria
Na beira da praia a soluçar
eu perguntei: o que aconteceu?
Rosa Maria me respondeu:
O nosso amor morreu.
Não sei ainda explicar qual a razão
De Rosa Maria desprezar meu coração
Eu fazia-lhe toda a vontade
Será que ela tem outra amizade?
TUDO É ILUSĀO (Anibal da Silva e Eden Silva e Raul Moreno)
Não, não foi surpresa para mim
Porque tudo na vida tem fim
Eu esperei com resignação
O triste dia da separação
Vai, meu amor siga o teu destino
Que eu seguirei o meu
Seja feliz, adeus (2x)
Nada dura eternamente
Tudo na vida é ilusão
Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde,
Chegaria o dia da separação
Arranjo e violão - Cláudio Jorge
Violão de 7 cordas - Filipe Lima
Cavaquinho - Mauro Diniz
Pandeiro/Tan-tan/Tamborim -Esguleba
Djembe/Agôgo - Marcelinho Moreira
Coro - Analimar Ventapani, Claudia Telles e Jurema de Cândia
SAMBISTA PARTIDÁRIO
(Cláudio Jorge)
Velho camarada amigo
Vim aqui lhe convidar
Para ingressar num partido
Que é bem conhecido por ser popular
Não tem sede, não tem comitê
Mas tem pra palanque o quintal e o palco
Vim aqui lhe convencer
A se filiar ao meu Partido Alto
Meu partido não tem presidente
Cacique, suplente nem governador
Pra se líder na nossa bancada
É preciso ter banca de improvisador
Daqueles que usam a palavra cantando
De um jeito contando uma história
Levando alegria pro povo
E fazendo de bobo quem perde a memória
Falando da nossa estrutura
O pandeiro e o cavaco sustentam a base
E a nossa ideologia é cantar o bom Samba
Seja em qualquer fase
Ser correligionário do nosso trabalho
É uma prova de amor
O sambista quando é partidário
Defende o Partido do jeito que for
Aproveitando o momento
De divertimento pra um manifesto
Não quero sentir a vergonha de ser brasileiro
E por isso protesto
Contra a ambição desmedida
Que faz deputado e também senador
Pular de um partido pro outro
jogando o meu voto no ventilador
Arranjo de base e violão - Cláudio Jorge
Arranjo de metais - Gilson Peranzzeta
Baixo elétrico - Ivan Machado
Bateria - Camilo Mariano
Pandeiro - Ovídio Britoi
Tan-tan/Repique - Marcelinho Moreira
Clarinetes/Clarones - Rui Alvim
Coro - Analimar Ventapani, Claudia Telles e Jurema de Cândia
“Voz de Xangô da Mangueira – Trecho de entrevista concedida a Cláudio Jorge, Dorina e ao jornalista Cristiano Menezes”.